Organizações camponesas: Os desafios da liderança
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Title |
Organizações camponesas: Os desafios da liderança
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Creator |
Diallo, Moussa Para
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Description |
À frente da sua organização, Moussa Para Diallo conduziu vitoriosamente o combate contra as importações de batatas europeias que concorriam com a excelente batata local. Apoiado na sua experiência, ele traça o retrato do líder camponês ideal: combativo, aberto e hábil negociador. Que lição tira da sua experiência à frente de uma organização camponesa? - Após 13 anos à frente da Federação dos Camponeses do Fouta Djallon (FPFD), adquiri a convicção de que um líder camponês é antes de mais um homem de desafios: atingir os objectivos aconteça o que acontecer. Este desafio deve ser para ele uma obsessão. Isto supõe que ele se aceite antes de mais a si próprio como líder, mas sem nunca se desligar da sua base: o campesinato. Não é qualquer um que passa o seu tempo a viajar por tudo e por nada e a mostrar-se em grandes hotéis, preocupando-se apenas com o per diem. Quais são, para si, as qualidades essenciais de um bom líder camponês? - A sua primeira preocupação: pôr as pessoas a trabalhar. Deve estar preparado para confrontar-se com todas as dificuldades, donde quer que venham. Nunca deve abdicar. Tem acima de tudo que aceitar o diálogo e trocar ideias regularmente com os outros, a nível local, nacional ou internacional. O líder é alguém que sabe organizar, adaptar-se a situações difíceis, motivar os aderentes para que eles acreditem decididamente naquilo que fazem. Mas não basta ter coragem. Tem de dispor de técnicas de gestão para poder alcançar os seus objectivos, o primeiro dos quais o bem-estar dos camponeses. Também deve mostrar-se íntegro, visionário e ser capaz de se adaptar a meios diferentes. Quando se preenchem todos estes requisitos, é então possível partilhar pontos de vista com uns e com outros nos cinco continentes, confrontá-los com as suas próprias ideias e daqui retirar algo de proveitoso para a sua organização. Um bom líder camponês também é alguém que sabe bater-se pela obtenção de melhores preços, tanto com os fornecedores de matérias-primas como com os clientes que vêm comprar os produtos. Também deve defender-se e defender a sua organização junto dos poderes políticos e administrativos. Todavia, é preciso manter alguma distância com a política e não ser de nenhum partido. Enfim, deve sonhar em formar pessoas susceptíveis de o substituir e incitar constantemente os membros da sua organização a ter formações adequadas. Como concilia a presença na aldeia e a representação no exterior? - Eu creio que um dos problemas dos líderes dos países do Sul é serem demasiado burocráticos. Um líder próximo da sua base deve saber tirar a gravata, arregaçar as mangas e apenas ir à cidade quando é verdadeiramente necessário. Senão como é que ele pode pretender apresentar os problemas de que não está impregnado? Algumas pessoas acusam-me por vezes de nunca estar na cidade. Efectivamente, o meu lugar é aqui em Timbi Madina. Foram os camponeses que me elegeram para a chefia da sua federação e não os citadinos. Apenas vou a Conakry ou à Europa quando devo participar em negociações. Caso contrário o meu lugar é aqui! Não devemos nunca perder de vista que a finalidade das nossas organizações é ajudar a melhorar a produção e a comercialização. Não é por conseguinte útil estar em todas as conferências e reuniões para dar pontos de vista teóricos. Um bom responsável tem de ser um prático em vez de estar fechado em escritórios climatizados, bem longe das realidades dos camponeses. Qual a tarefa mais árdua para um representante de uma organização camponesa? - É verdade que um líder encontra no seu caminho muitos entraves... o primeiro obstáculo, e aquele que o deverá sempre preocupar, é onde e como arranjar os fundos e obter empréstimos para que as pessoas possam trabalhar. Tem de ser um bom negociador porque terá de obter crédito junto dos bancos. E reconheço que não é fácil. Tanto mais que as taxas de juro têm de ser aceitáveis. Outro grande problema: encontrar constantemente novas formas que permitam aos agricultores dispor de pequenas superfícies para produzir cada vez mais. Actualmente, na Europa, não há mais do que 3 a 4% da população a praticar agricultura, mas não obstante este pequeno número, eles conseguem alimentar a Europa e exportar para o mundo inteiro. Em África, 80% da população pratica a agricultura. No entanto os agricultores mal conseguem satisfazer as suas necessidades. A grande dificuldade para os líderes camponeses, especialmente os africanos, é inverter esta tendência. Para conseguir levar a cabo todas estas tarefas que enumerei, um líder tem estar preparado em três planos: antes de mais no plano intelectual, em seguida no plano prático e depois no plano material, na sua própria exploração. Ele também deve aprender a defender-se contra a injustiça de certos ataques. Porque entre nós, quando se é um líder, as pessoas pensam que vivemos desafogadamente. Assim, os líderes têm que se bater para se darem a conhecer e dar a conhecer também a organização. Algumas pessoas chegam a criar organizações paralelas, somente com o intuito de sabotar os nossos esforços. Uma conclusão? - O desenvolvimento é um processo que se constrói a longo prazo. Assim, é preciso perseverar e nunca desistir quando se pretende ter sucesso. Para quem se agarrar a essa tarefa com coragem, os seus esforços serão compensados, porque as populações reconhecerão o seu mérito. Mostrarão o seu respeito e seguirão as suas propostas. E essa é a nossa melhor recompensa. É por isso que a luta deve ser dura e travada em todas as frentes. E-mail: president@paysansdufouta.org. Apoiado na sua experiência, Moussa Para Diallo traça o retrato do líder camponês ideal: combativo, aberto e hábil negociador. |
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Date |
2005
2015-03-30T13:50:44Z 2015-03-30T13:50:44Z |
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Type |
News Item
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Identifier |
Diallo, Moussa Para. 2005. Organizações camponesas: Os desafios da liderança. Esporo 69. CTA, Wageningen, The Netherlands.
1019-9381 https://hdl.handle.net/10568/64415 |
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Language |
pt
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Relation |
Esporo 69
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Rights |
Copyrighted; all rights reserved
Open Access |
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Publisher |
Technical Centre for Agricultural and Rural Cooperation
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Source |
Esporo
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